Nós.
Memórias que quero marcar a tua presença e a enaltecer sem continuar a chorar de mágoa, de angústia por já não te sentir nesta realidade. Acolhe-me, ele diz. Rega-me, ele responde. Nutre-me, ele sublinha. Pede uma continuação na germinação que deixou neste solo.
Um nó. Dois nós. Três nós. Tantos nós que invadem o meu corpo. Eles entrelaçam-se na minha garganta e envolvem-se em ruídos que só eu os oiço. Gritam em silêncio entre amarras que desejam por uma luz. Germinam entre revolta a dor da perda. Surgem caras, olhos, bocas narizes e formas. Ganham uma dimensão de pedido de socorro. Germinam continuidade. Desenvolvem altos como crosta que se libertam de dentro para fora. De um interior que pede para ser visto. De um Ser que está em constante mutação e desconstrução. De uma perda que criou raízes profundas de dor que pedem por uma esperança. Sobrevivo. Ainda estou aqui. Marcas de um recomeço entre a perda de te deixar meu pai. Memórias que quero marcar a tua presença e a enaltecer sem continuar a chorar de mágoa, de angústia por já não te sentir nesta realidade. Acolhe-me, ele diz. Rega-me, ele responde. Nutre-me, ele sublinha. Pede uma continuação na germinação que deixou neste solo. Ligações criadas de uma cura que me cria uma procura. Um nó, dois nós, três nós. Ainda não me sinto preparada para te deixar ir. O meu amor agarra-se a ti. Faço parte da tua forma que deixaste para trás. Pai, onde estás? Adormeço e mergulho em sonhos acordados contigo, choro com perturbações neuróticas do teu pesadelo. Sinto o teu sofrimento de vida que levou para outros caminhos. Este nó não se desamarra. Olho entre as texturas que me deixaste. Procuro um colo. Uma caricia. Um toque de volta, um abismo sem fim em que não te encontro. Não consigo exprimir um amor que ficou pelo caminho, um telefonema em que a tua voz parece cada vez mais distante. Ainda te oiço ao longe. Ainda te vejo com o mesmo sorriso. Ainda sinto o teu abraço. Ainda me embrulho nas nossas conversas. Onde estás pai? Um nó. Dois nós. Três nós. Gritos em silêncio que ecoam entre o meu movimento. Costuro. Continuo. Amarro entre linhas de emoções adormecidas na tua perda que me obrigam a continuar. Calco-me. Revolto-me. Onde estás?